Professora e graduanda do curso de Pedagogia pela UFBA/TAPIRAMUTÁ, Aleanes Bispo Brito fala dos desafios da profissão e do trabalho que realiza numa classe de 3º ano do Ensino Fundamental I (ainda não alfabéticos no início do ano letivo).
Diante das dificuldades de leitura e escrita dos seus alunos ao início do ano letivo, quais foram as suas prioridades para melhorar a aprendizagem? Que ações você desenvolveu que considera relevantes para o resultado obtido hoje?
Primeiro, ter um olhar além da sala de aula foi uma das prioridades para poder estabelecer o caminho a ser seguido. Planejar as atividades levando em conta os conhecimentos, interesses e necessidades dos alunos com ajuda da equipe gestora da escola. Dentre as ações, posso destacar: organização do trabalho pedagógico. A rotina semanal é fundamental para garantir o bom andamento das atividades. Desenvolvimento de projetos didáticos de leitura e escrita. Realização de atividades de reforço e atividades de acordo com os níveis de escrita. Enfim, a prática educativa é bastante complexa, pois o contexto de sala de aula traz questões de ordem afetiva, social, emocional e de relações sociais.
No IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) 2007 a escola obteve média 3,0 e em 2009 alcançou 3,5. Qual sua avaliação desses resultados?
Esses resultados revelam que a escola estar melhorando. Mas que ainda precisa investir na qualidade do ensino (prática pedagógica e avaliação) para qualificar a aprendizagem.
Você leciona há alguns anos, em algum momento já se sentiu incapaz de ensinar? Teve vontade de desistir da profissão?
Sim. Às vezes bate uma crise e dá vontade de desistir da profissão.
Quais as principais razões que, às vezes levam os professores a ter esse pensamento?
É desgastante a falta de compromisso da sociedade em relação à educação. A questão salarial é uma grande razão para essa vontade de desistir por parte de muitos profissionais. Um salário digno atrai e valoriza o trabalho docente. Além disso, muitas vezes, o professor é visto como o maior culpado pela má qualidade do ensino. Além de estar sujeito a violência física e verbal por uma geração destituída de valores sociais e humanos. Como educadores temos o dever sim de priorizar os nossos alunos, mas não podemos assumir a responsabilidade de todos os problemas sociais vividos por eles.
15 de outubro é dia do professor. Como você analisa esta data?
No dia 15 de outubro de 1827, D. Pedro baixou um decreto imperial que criou o ensino elementar no Brasil. Mas, foi somente em 1947, 120 anos após o referido decreto que ocorreu a primeira comemoração de um dia dedicado ao professor. Umas das profissões mais importante em todas as sociedades. Mas não valorizada, porque a própria classe ainda não é unida e muitos de nós, não nos damos o devido valor enquanto profissionais. Considero duas características básicas para ser um bom professor: ter vontade de ensinar e gostar de aprender. Há professores apaixonados pela profissão. Estes vão para a sala de aula por gosto, esses, geralmente, chegam ao mestrado, doutorado. E ainda há aqueles que tem na docência a única alternativa de sobrevivência.
Na sua opinião, o trabalho do professor é reconhecido pelos pais e comunidade?
Não. Há uma grande desvalorização da atividade docente não só por parte de alunos, pais e comunidade, mas também da sociedade.
Mesmo diante de todos os desafios da profissão, qual você considera mais relevante? Por quê?
Receber no início de um ano letivo uma turma com muitas dificuldades de leitura e escrita é um desafio. Por outro lado, chegar ao “fim” de um processo e ouvir da equipe gestora que a turma obteve um excelente resultado comparado com o que estava no início do ano, é gratificante. Isso motiva o profissional a reconhecer sua importância dentro do processo de ensino-aprendizagem.
Neste mês do professor, poderia deixar uma mensagem de reflexão para todos àqueles que, sendo ou não professores, poderiam (re) conhecer na profissão uma das armas mais poderosas para mudar o mundo?
A educação é uma das formas mais poderosas para a progressão de valores no ser humano. Segundo Paulo Freire (1994), “o professor pode moldar o caráter dos alunos, portanto, pode ser capaz de deixar marcas de um grande significado nessas pessoas em formação (...)”. Ser professor é ter vocação e estar com ânimo para enfrentar os ofícios da profissão. Queremos melhores condições de vida e trabalho, mas, devemos ser conscientes que é necessário formar bons cidadãos para transformar a sociedade. Parabéns, professor pelo que somos e pelo que fazemos. “Os professores não têm futuro. São eles, o futuro...” Solange Gomes da Fonseca.
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